A Biblioteca Nacional e a Marinha do Brasil uniram forças para um projeto inédito de incentivo à leitura entre populações ribeirinhas da Amazônia. Um protocolo de intenções assinado nesta segunda-feira (29), a bordo do Navio de Assistência Hospitalar Carlos Chagas, em Manaus (AM), formaliza a doação de 2.424 livros a comunidades em áreas de difícil acesso, cuja única conexão com o mundo exterior é, muitas vezes, o curso dos rios.
A entrega das obras será feita por embarcações da Marinha até o fim de 2025 em oito localidades: Umuriaçu, Feijoal, Nova Cananã, Santana do Supiá, Beaba II, Cuianã, Paricatuba e Careiro da Várzea. Esta última recebe já amanhã (30/09) 400 livros, levados até duas escolas municipais pelo navio-hospital Carlos Chagas, que navega pelo Rio Solimões.
Poesia, prosa e clássicos brasileiros no coração da floresta
A seleção das obras contempla 101 títulos distintos, entre eles clássicos da literatura brasileira, como Canção do exílio, de Gonçalves Dias, e O homem que sabia javanês, de Lima Barreto. Também serão enviados volumes da revista Poesia Sempre, publicação consagrada da própria Biblioteca Nacional.
“A presença da Biblioteca Nacional entre as comunidades ribeirinhas da Amazônia é fruto do entendimento entre dois órgãos de Estado, solidários em suas missões institucionais”, afirmou Marco Lucchesi, presidente da FBN. “Os navios da esperança agora também transportam livros, ampliando o alcance da cidadania por meio da leitura.”
Lucchesi lembrou ainda que a própria origem da Biblioteca Nacional está ligada ao mar: fundada no século XIX, chegou ao Brasil vinda de Portugal por via marítima, em tempos de guerra e deslocamento. “Que ela continue navegando, agora na companhia da Marinha do Brasil.”
Cultura e cidadania lado a lado
O almirante João Alberto de Araujo Lampert, comandante do 9º Distrito Naval, reforçou o caráter estratégico da parceria: “Além de assistência médica, queremos proporcionar acesso à cultura e à educação por meio da disponibilização gratuita de obras renomadas. A presente parceria visa potencializar as ações da Marinha na região, onde o acesso, em muitos casos, só é possível por via fluvial.”
A relação entre as duas instituições não é nova. Desde 2023, Biblioteca Nacional e Marinha atuam em conjunto no Serviço Nacional de Intercâmbio Bibliográfico, que já viabilizou o envio de 7.558 livros para bibliotecas e universidades de 27 países. Até mesmo a Estação Antártica Comandante Ferraz recebeu, recentemente, quase 900 volumes para sua biblioteca local.
Com mais essa ação, a Biblioteca Nacional reforça seu compromisso com a democratização da leitura em todas as suas formas — digitais ou analógicas — e com todos os seus públicos, especialmente os mais distantes dos grandes centros. Como disse Lucchesi, “a leitura é um direito de todos”.
