2 de junho de 2025
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5 filmes incríveis de Kleber Mendonça, melhor diretor em Cannes

Conheça cinco obras fundamentais da carreira de Kleber Mendonça Filho e entenda por que ele merece toda a atenção.
29 de maio de 2025
Sônia Braga no premiado "Aquarius". Foto: reprodução.

Em meio aos aplausos entusiasmados no Palácio dos Festivais, Kleber Mendonça Filho subiu ao palco de Cannes no último sábado (24) para receber o prêmio de Melhor Direção. Emocionado, dedicou o troféu aos brasileiros, em particular aos de Recife. “Meu país, o Brasil, é um país cheio de beleza e poesia. Estou muito orgulhoso de estar aqui esta noite. Penso que Cannes é simplesmente a catedral do cinema neste planeta”, disse.

O “Agente Secreto”, seu novo filme, foi o único a receber dois prêmios na cerimônia de encerramento do evento. O reconhecimento marca um momento histórico para o cinema nacional e reafirma o talento de um dos mais inventivos cineastas do país.

O presidente Lula fez questão de parabenizar o diretor em post em sua conta no X: “Hoje é dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. De comemorar o reconhecimento que nossa arte tem no mundo. E de curtir a felicidade de viver em um país que tem gigantes do porte de Kleber Mendonça e Wagner Moura”.

Em suas obras, Mendonça combina uma visão crítica aguçada com uma estética autoral sofisticada, explorando em seus filmes temas como memória, desigualdade, especulação imobiliária e identidade. Para quem deseja conhecer mais do trabalho desse premiado cineasta, selecionamos cinco filmes imperdíveis que mostram sua evolução, estilo e relevância.

1. Vinil Verde (2004)

Em “Vinil Verde”, uma menina recebe dos pais uma misteriosa caixa de discos com uma única advertência: ela pode ouvir todos, exceto um — o de capa verde. Naturalmente, a curiosidade infantil a leva à transgressão, e o filme se transforma numa parábola inquietante sobre obediência, desejo e consequências. Mesmo com apenas 13 minutos de duração, o curta tem impacto duradouro.

Filmado em Recife com um orçamento modesto, Vinil Verde evidencia o domínio estético e narrativo de Kleber Mendonça Filho já em seus primeiros trabalhos. O uso expressivo do som, o cuidado com a mise-en-scène e a tensão crescente mostram a construção de uma linguagem que ele aprofundaria em seus longas posteriores. É um exemplo poderoso de como o cineasta transforma o cotidiano em fabulação cinematográfica.

2. O Som ao Redor (2012)

Neste retrato da classe média recifense, acompanhamos os moradores de um quarteirão que passam a conviver com a presença de uma empresa de segurança privada. Pequenos conflitos cotidianos revelam tensões sociais, raciais e históricas que se acumulam sob a superfície aparentemente tranquila da vizinhança.

“O Som ao Redor” foi o primeiro longa de ficção de Kleber e já traz muitos de seus temas recorrentes: a vigilância, o som como linguagem, os muros que separam e protegem. Aclamado pela crítica internacional, o filme foi indicado ao Independent Spirit Awards e escolhido como representante do Brasil no Oscar.

3. Aquarius (2016)

Clara, interpretada por Sônia Braga, é uma jornalista aposentada e última moradora de um antigo edifício em Recife, alvo da pressão de uma construtora que deseja demolir o prédio. A protagonista se recusa a vender seu apartamento, tornando-se símbolo de resistência, memória e dignidade.

Em “Aquarius”, Kleber constrói uma narrativa intimista e política, ao tratar do apagamento da história em nome do progresso. A relação entre espaço, identidade e classe social é o fio condutor desse drama poderoso. O filme foi ovacionado em Cannes e consolidou o nome do diretor no circuito internacional.

4. Bacurau (2019)

Em um vilarejo no sertão nordestino, os moradores descobrem que sua comunidade foi literalmente apagada dos mapas. Logo em seguida, estranhos eventos começam a acontecer, incluindo o aparecimento de drones, cortes de comunicação e assassinatos misteriosos. “Bacurau”, co-dirigido por Kleber e Juliano Dornelles, é uma fábula distópica sobre colonialismo, violência e resistência.

O filme mistura faroeste, terror, crítica política e regionalismo, com uma estética afiada e um elenco potente, incluindo Sônia Braga e Udo Kier. Premiado no Festival de Cannes com o Prêmio do Júri, “Bacurau” virou símbolo de resistência artística e política, sendo aclamado tanto pelo público quanto pela crítica internacional.

5. Retratos Fantasmas (2023)

Neste documentário profundamente pessoal, combinando ficção e documentário, Kleber percorre antigos cinemas de Recife, refletindo sobre a relação entre cidade, memória e cinema. Com imagens de arquivos, entrevistas e narração em primeira pessoa, o filme transforma os espaços físicos em fantasmas da cultura e da vivência urbana.

“Retratos Fantasmas” é um tributo ao poder da sala de cinema e uma crônica afetiva sobre as transformações do espaço urbano. Mais do que um documentário, é uma carta de amor à cinefilia e ao Recife que moldou a sensibilidade do diretor.

Um pouco mais sobre Kleber Mendonça Filho

A carreira de Kleber é marcada por uma abordagem singular da vida urbana, da resistência cultural e das transformações sociais que atravessam o Brasil. Nascido em Recife, em 1968, Kleber começou sua trajetória como crítico de cinema. Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco e é casado com a cientista política e produtora cinematográfica francesa Emilie Lesclaux.

A força de sua obra está em sua capacidade de contar histórias sobre o Brasil sem recorrer a clichês, apostando em personagens complexos e em uma estética brasileira. Ao fazer do som e da arquitetura elementos centrais de suas narrativas, Kleber nos lembra que o cinema também é feito de camadas invisíveis, que precisam ser ouvidas e sentidas. Em tempos de discursos apressados, seus filmes pedem tempo, atenção e sensibilidade.

O Agente Secreto (2025), que estreou em Cannes, é um thriller político ambientado nos anos da ditadura militar brasileira. No longa, Kleber revisita temas como vigilância, silêncio e memória, por meio da história de um engenheiro de som envolvido com gravações clandestinas e perseguições de Estado. Aclamado pela crítica internacional, o filme rendeu ao diretor o prêmio de Melhor Direção em Cannes e marcou sua volta ao drama ficcional após o sucesso de Bacurau e Retratos Fantasmas.

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Júlio Pereira

Formado em Sociologia pela UFRJ, torcedor do Flamengo e morador de Niterói. Adora cinema de terror e livros de ficção científica. Tem 28 anos.

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