14 de junho de 2025
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Cotas transformam universidades públicas e ampliam diversidade, aponta novo estudo

Obra coordenada por Luiz Augusto Campos e Márcia Lima analisa os efeitos das ações afirmativas após duas décadas de aplicação no ensino superior brasileiro.
23 de maio de 2025
UERJ
UERJ, no Rio de Janeiro, teve papel pioneiro na adoção das cotas afirmativas. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Mais de vinte anos após a adoção das cotas no ensino superior, muito ainda há que ser feito para que a universidade e o mercado de trabalho apresentem condições mais igualitárias entre brancos e não-brancos. Mas os avanços são inegáveis e importantíssimos. Um novo livro revela como essas políticas mudaram o perfil das universidades públicas no Brasil. Organizado pelos sociólogos Luiz Augusto Campos (IESP-UERJ) e Márcia Lima (USP), O Impacto das Cotas: Duas décadas de ação afirmativa no ensino superior brasileiro reúne mais de 30 artigos de especialistas de todo o país e oferece a análise mais ampla já feita sobre o tema.

A pesquisa, fruto da articulação entre oito centros de estudos, mostra que a presença de estudantes pretos, pardos e indígenas passou de 31,5% em 2001 para 52,4% em 2021. O mesmo aconteceu com os alunos das classes D e E, que deixaram de ser minoria. Esses avanços ganharam fôlego com a Lei nº 12.711/2012, atualizada em 2023 para ampliar o alcance dos auxílios estudantis e reforçar que cotistas também disputem vagas na ampla concorrência.

O livro rebate um dos principais argumentos contrários às cotas: o suposto baixo desempenho acadêmico dos cotistas. Dados de instituições como UFMG, UFRJ e UFSC mostram que, apesar de notas iniciais ligeiramente menores no Enem, os cotistas alcançam rendimento equivalente ao longo do curso. As taxas de evasão também se mantêm semelhantes entre cotistas e não cotistas, com destaque para a vulnerabilidade de homens negros — um dado que reforça a urgência de políticas de permanência.

Percorrendo a trajetória das ações afirmativas no Brasil, os autores examinam o que já foi alcançado, apresentam dados sobre desempenho acadêmico, impactos nas universidades públicas e privadas, permanência e evasão de estudantes cotistas e aponta caminhos para a continuidade das cotas, incluindo mudanças propostas na legislação e a necessidade de políticas complementares. 

Outro destaque da obra é o mapeamento das diferentes experiências institucionais: da Uerj, pioneira nas cotas raciais, à Unicamp, que só implementou a política em 2017 após anos de bonificação com resultados tímidos. Casos como o da UFSC, que atingiu paridade racial em 2020, ilustram a força das cotas como ferramenta de inclusão.

Mais que garantir acesso, o livro mostra ainda que as ações afirmativas transformaram o ambiente universitário: impulsionaram novas linhas de pesquisa, revisaram currículos e valorizaram saberes plurais. Como resume a educadora Nilma Lino Gomes no prefácio: “As cotas não apenas abrem portas. Elas mudam os espaços por dentro. Elas introduzem novos sujeitos, novos saberes e formas plurais de produzir ciência.”

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Júlio Pereira

Formado em Sociologia pela UFRJ, torcedor do Flamengo e morador de Niterói. Adora cinema de terror e livros de ficção científica. Tem 28 anos.

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