Vinte anos após o lançamento do influente A cabeça do brasileiro, o cientista político Alberto Carlos Almeida volta às livrarias com uma nova edição do livro, agora intitulada A cabeça do brasileiro, vinte anos depois (Ed. Difel). A obra se apoia em uma nova rodada da Pesquisa Social Brasileira (PESB), realizada com quase 1.600 entrevistados em 2022/2023, para traçar um panorama profundo sobre como pensam os eleitores brasileiros às vésperas de mais uma eleição presidencial.
Entre os principais achados do novo levantamento está o crescimento expressivo de brasileiros que se identificam com a esquerda. Em um capítulo assinado por Lucio Rennó, professor da Universidade de Brasília, os dados mostram que, em comparação com 2002, houve um aumento de 13 pontos percentuais entre os eleitores que se situam em alguma gradação do campo da esquerda. Já entre os que se identificam com a direita, o crescimento foi de 7 pontos percentuais. Rennó observa que, ao contrário da ideia corrente de que a direita teria crescido mais, os dados mostram uma virada mais significativa à esquerda — ainda que a polarização política permaneça uma característica estrutural do cenário brasileiro.
Além da polarização, o livro traz capítulos dedicados a temas como raça, com foco na chamada “parditude”, religião, respeito à lei, relações de gênero, segurança pública e economia. O grupo de autores inclui nomes como Andreia Schroeder, Arthur Trindade M. Costa, Fabrício M. Fialho, Julio Trecenti, Marcelo Ottoni Durante, Nelson Rojas de Carvalho, Nilson Teixeira e Stanley R. Bailey — todos especialistas em suas respectivas áreas.
Assim como na edição original, o novo livro se baseia no mesmo questionário e desenho amostral da PESB de 2002, o que permite comparar as respostas e identificar tendências de mudança e permanência nas crenças, valores e percepções dos brasileiros ao longo de duas décadas. “Todos os países mudam em vinte anos, e o Brasil não é exceção à regra”, diz o próprio Almeida no texto de apresentação. “Mas as visões de mundo que permaneceram inalteradas diante de tantas transformações estruturais talvez sejam mais reveladoras do que as que mudaram.”
A publicação destaca ainda que certas crenças resistiram ao tempo, como o apoio à democracia, enquanto outras passaram por transformações profundas, especialmente no campo dos costumes, do papel do Estado e da religião na vida pública. A presença crescente de evangélicos, por exemplo, é abordada com ênfase no impacto que isso tem sobre o comportamento eleitoral e os valores morais da sociedade.
A turnê de lançamento do livro está marcada para setembro e passará por três capitais: Rio de Janeiro (Livraria Travessa de Ipanema, dia 15), São Paulo (Livraria Vila Fradique, dia 22) e Brasília (Câmara dos Deputados e Biblioteca do Senado, dia 23). Os eventos contarão com a presença do organizador e de alguns autores.
Alberto Carlos Almeida é doutor em Ciência Política e diretor do Instituto Brasilis. Ficou conhecido por tornar acessível ao grande público temas complexos da ciência política brasileira. Entre seus livros mais conhecidos estão O voto do brasileiro e A mão e a luva: o que elege um presidente. Em A cabeça do brasileiro, vinte anos depois, ele mais uma vez oferece aos leitores uma análise embasada, clara e instigante sobre o Brasil de hoje — e sobre o que permanece do Brasil de ontem.