O Brasil acompanha desde o início desta semana o julgamento dos réus do 8 de janeiro — acusados de tentativa de golpe de Estado e de crimes contra a democracia —, que ocorre no Supremo Tribunal Federal. O evento reacende no Brasil a importância da Justiça como arena simbólica e política. Os processos, que envolvem depoimentos, provas e reconstruções dos eventos daquele domingo de 2023, trazem à tona não só responsabilidades individuais, mas o papel das instituições na defesa da legalidade e dos direitos fundamentais.
Em momentos assim, o cinema, sempre atento aos grandes dilemas da sociedade, oferece obras poderosas que colocam a Justiça no centro da narrativa, expondo suas tensões morais, falhas e possibilidades. Confira, abaixo, 5 filmes imperdíveis sobre o tema:
1. Doze Homens e Uma Sentença (12 Angry Men, 1957)
Dirigido por Sidney Lumet, este clássico do cinema é uma aula sobre o funcionamento do júri e os preconceitos que podem contaminar um veredito. A trama se passa quase inteiramente numa sala de deliberação, onde um único jurado (interpretado por Henry Fonda) resiste a condenar um jovem acusado de assassinato, instigando os demais a reconsiderarem suas certezas. O filme é uma poderosa reflexão sobre o peso da responsabilidade cívica e sobre como a verdade pode ser sufocada por pressões sociais e julgamentos apressados.
2. O Julgamento de Nuremberg (Judgment at Nuremberg, 1961)
Baseado em fatos reais, este drama histórico dirigido por Stanley Kramer aborda o julgamento de juízes nazistas após a Segunda Guerra Mundial. Mais do que registrar um momento histórico, o filme questiona a cumplicidade de membros da elite intelectual e jurídica com regimes autoritários. Com atuações memoráveis de Spencer Tracy e Burt Lancaster, a obra levanta questões complexas sobre ética, obediência e o uso da lei como instrumento de opressão.
3. Acusados (The Accused, 1988)
Com direção de Jonathan Kaplan e atuação arrebatadora de Jodie Foster, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz, Acusados expõe a dificuldade em se obter justiça para mulheres vítimas de violência sexual. Baseado em um caso real, o filme acompanha o processo de condenação não apenas dos estupradores, mas também dos homens que incentivaram e aplaudiram o crime. Um retrato duro das falhas estruturais do sistema judiciário frente à misoginia.
4. O Julgamento dos 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7, 2020)
Dirigido por Aaron Sorkin, este filme dramatiza o julgamento de ativistas acusados de incitar distúrbios durante a Convenção Nacional Democrata de 1968. Repleto de diálogos afiados e cenas de tensão no tribunal, a obra revela os limites da Justiça em tempos de repressão política. As semelhanças com episódios recentes da história brasileira são inevitáveis — especialmente quando se trata do uso do sistema legal para perseguir dissidências e construir narrativas de inimigos internos.
5. Julgamento em Tóquio (Tokyo Trial, 2006)
Menos conhecido do grande público, este drama japonês coproduzido com a Holanda reconstrói os julgamentos de criminosos de guerra japoneses após o fim da Segunda Guerra Mundial. A série mostra o embate entre diferentes visões de Justiça, revelando os conflitos entre os países aliados sobre como responsabilizar o Japão pelos horrores cometidos durante a guerra. É também um estudo sobre os limites da neutralidade judicial e o papel do direito internacional na consolidação da paz.
A força simbólica do tribunal
O tribunal, no cinema, raramente é apenas o espaço do julgamento penal. Ele é palco da luta entre visões de mundo, entre o Estado e o indivíduo, entre a norma e a exceção. Por isso, esses filmes nos ajudam a compreender que os processos jurídicos vão além dos autos, mostrando como o julgamento carrega consigo uma disputa de narrativas e memórias.
No Brasil contemporâneo, em que atos golpistas e discursos autoritários voltam à cena, filmes sobre julgamentos ganham nova urgência. Eles ajudam a lembrar que a democracia se defende também com argumentos, provas e garantias legais — e que a Justiça, por mais imperfeita que seja, é uma ferramenta essencial para conter a barbárie.