E aí, ler ou ouvir um livro? Essa foi a pergunta que animou a jornalista Helen Thomson em instigante reportagem publicada na New Scientist, uma das principais no mundo quando o assunto é ciência. Segundo a reportagem Thomson, o mais importante, para além das disputas de formatos, é que ler continua sendo um exercício poderoso para o cérebro. Estudos associam a prática à empatia, ao desenvolvimento da teoria da mente e até à longevidade: pessoas que leem livros por 30 minutos ao dia têm 20% menos chance de morrer nos 12 anos seguintes em comparação às que não leem nada. O efeito é mais marcante com livros físicos, já que jornais e revistas não mostraram o mesmo impacto.
Quando o assunto são telas e e-readers, os resultados ficam mais complexos. Pesquisadores da Universidade de Stavanger (Noruega) e de Utrecht (Holanda) descobriram que leitores habituados a textos curtos em dispositivos digitais tendem a buscar menos sentido nos trechos e a desistir com mais facilidade diante de obras longas. Em outras palavras, a leitura em papel favorece a persistência e a compreensão profunda.
Nos audiolivros, relata Thomson, as evidências são mais escassas, mas animadoras. A compreensão geral costuma ser equivalente à da leitura silenciosa. Ainda assim, diferenças sutis surgem: uma meta-análise de 46 estudos mostrou que ler dá uma leve vantagem na hora de interpretar sentimentos e intenções de personagens. O formato de áudio, por outro lado, ativa o raciocínio intuitivo e traz entonação e emoção da voz narradora, fatores que também moldam a experiência.
No fim, afirmam os cientistas ouvidos pela New Scientist, não há um formato “melhor” em termos absolutos. O mais importante é a atenção: ouvir um audiolivro enquanto se dirige ou cozinha pode reduzir a profundidade de processamento, enquanto reservar tempo para ler em papel ou ouvir com foco total potencializa os benefícios. Para quem busca prazer, seja no carro, no sofá ou no fone de ouvido, o essencial é não prescindir da experiência de se conectar a uma boa história.