Está disponível para download gratuito o livro O Português Afro-Brasileiro, publicação de 572 páginas que reúne décadas de pesquisa sobre as variedades populares da língua portuguesa falada em comunidades rurais afro-brasileiras. Organizado por Dante Lucchesi, Alan Baxter e Ilza Ribeiro, o livro parte de um esforço pioneiro de investigação linguística em áreas isoladas do interior do Brasil, especialmente na Bahia, Espírito Santo e Piauí.
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Uma hipótese linguística em disputa
A obra nasceu de uma disciplina sobre línguas pidgins e crioulas ministrada por Alan Baxter na Universidade de Lisboa, onde ele apresentou a hipótese das origens crioulas do português popular do Brasil, inspirada em autores como Gregory Guy e John Holm. A tese, no entanto, foi contestada por Dante Lucchesi, que argumentava — com base em sua formação estruturalista — que as transformações da língua já estavam latentes na estrutura do português europeu e apenas foram aceleradas pelo contato com outras línguas no Brasil.
O debate entre os dois pesquisadores deu origem a uma frutífera colaboração: um amplo projeto de pesquisa de campo chamado “Vestígios de Dialetos Crioulos em Comunidades Rurais Afro-Brasileiras Isoladas”, financiado pelo Australian Research Council e implantado com apoio de universidades brasileiras.
Helvécia e o português afro-brasileiro
Ao longo dos anos 1990, os pesquisadores percorreram o interior da Bahia, Espírito Santo e Piauí em busca de comunidades isoladas com traços linguísticos crioulos. Uma das mais significativas foi a comunidade de Helvécia, no sul da Bahia, onde ainda se preservavam traços marcantes como a variação na concordância verbal e nominal (exemplo: “eu trabalha na roça”).
Apesar de não terem identificado uma variedade crioula plena do português nessas comunidades, os autores chegaram à conclusão de que o contato linguístico com populações indígenas e africanas foi determinante na formação das variedades populares do português no Brasil, especialmente no que diz respeito à flexão verbal e nominal.
Um testemunho linguístico e social
Além de seu valor linguístico, o livro também tem profundo significado social e político. As comunidades estudadas, muitas vezes negligenciadas pelo Estado, revelam um Brasil profundo, onde resistem formas próprias de linguagem e cultura. Os autores denunciam o abandono histórico dessas populações e defendem o compromisso social da ciência com a justiça e a inclusão.
O Português Afro-Brasileiro propõe uma escuta atenta aos modos de falar que foram historicamente marginalizados, valorizando a diversidade linguística como parte essencial do patrimônio cultural brasileiro.