13 de outubro de 2025
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Confira os novos livros de história que são destaque de outubro na mais prestigiada revista cultural americana

Livros sobre atrocidades de guerra, feminismo russo e a sombra do nazismo estão entre os destaques de outubro da prestigiada The New York Review of Books.
8 de outubro de 2025
O ditador Augusto Pinochet, do Chile, é um dos destaques do livro 38 Londres Street: On Impunity, Pinochet in England, and a Nazi in Patagonia, de Philippe Sands.

A The New York Review of Books é uma das revistas culturais mais influentes dos Estados Unidos, reconhecida por combinar ensaios profundos, críticas literárias e debates intelectuais de alto nível. Em sua edição de outubro, três livros de história ganham destaque: Massacre in the Clouds: An American Atrocity and the Erasure of History, de Kim A. Wagner; Motherland: A Feminist History of Modern Russia, from Revolution to Autocracy, de Julia Ioffe; e 38 Londres Street: On Impunity, Pinochet in England, and a Nazi in Patagonia, de Philippe Sands.

Em Massacre in the Clouds, o historiador Kim A. Wagner resgata um episódio brutal da história dos Estados Unidos: o massacre de Bud Dajo, ocorrido em 1906 nas Filipinas. Cerca de mil homens, mulheres e crianças da etnia moro foram mortos por tropas americanas no topo de um vulcão extinto. O evento foi celebrado na época como uma vitória militar, inclusive pelo então presidente Theodore Roosevelt, mas vozes dissidentes como Mark Twain e W.E.B. Du Bois denunciaram o ocorrido como uma atrocidade. Apesar de documentado por fotografias, o massacre desapareceu da memória coletiva americana — e é essa negligência histórica que Wagner busca confrontar com rigor e sensibilidade.

O autor transforma uma única imagem de arquivo em um poderoso instrumento de recuperação histórica. O livro se junta a um movimento mais amplo que visa reinserir no debate público os episódios de violência sistematicamente excluídos da historiografia oficial dos EUA.

Em 38 Londres Street: On Impunity, Pinochet in England, and a Nazi in Patagonia, o jurista e autor Philippe Sands investiga dois casos emblemáticos de impunidade no século XX: a prisão do ditador chileno Augusto Pinochet em Londres, em 1998, e a fuga do ex-oficial nazista Walter Rauff para o Chile, décadas antes. Rauff foi o criador dos caminhões de gás usados para exterminar judeus durante o Holocausto, e Pinochet, responsável por torturas e assassinatos durante a ditadura militar chilena. Ambos viveram em relativa tranquilidade no Chile por anos.

A partir da rua “Londres 38”, antiga prisão e centro de tortura da ditadura chilena, Sands reconstrói uma narrativa poderosa sobre a persistência da impunidade e o papel do direito internacional na responsabilização de criminosos de Estado. O livro funciona como uma combinação habilidosa de ensaio memorialístico, narrativa de tribunal e viagem investigativa. Como escreve o crítico Patrick Radden Keefe: “Sands criou uma obra indelével e envolvente de testemunho moral”.

Em Motherland, a jornalista Julia Ioffe mergulha na história da Rússia moderna a partir da experiência das mulheres, traçando um arco que vai da Revolução de 1917 até o regime autoritário de Vladimir Putin. Filha de judias soviéticas, Ioffe mistura memórias pessoais com análises históricas e jornalísticas, apresentando um panorama do que a URSS prometeu às mulheres — educação, trabalho, participação pública — e do que, no fim, efetivamente entregou.

Da presença feminina no front da Segunda Guerra Mundial às campanhas feministas do século XXI, passando por figuras como Nadejda Krupskaia, Valentina Tereshkova e as integrantes do grupo Pussy Riot, a autora questiona como um Estado que se dizia “vanguarda do feminismo” se transformou em símbolo do conservadorismo patriarcal.

Bruno Leal

Bruno Leal

Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor do Departamento de História da Universidade de Brasília. É editor do portal Café História e colabora esporadicamente para o Bonecas Russas.

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