“Absolutamente brasileiro”. Assim definiu o ator Wagner Moura o seu mais novo filme, “O agente secreto”, do pernambucano Kleber Mendonça (“Aquarius” e “Bacurau”), que estreou neste domingo na competição oficial do Festival de Cannes, na França. E após o fim do filme, o cinema veio abaixo com longos e vigorosos aplausos. Depois de “Ainda estou aqui”, ao que tudo indica, o mundo tem um novo filme para admirar e premiar.
Ambientado em 1977, durante os anos finais da ditadura militar brasileira, o filme acompanha Marcelo (Wagner Moura), um professor universitário especialista em tecnologia que retorna a Recife na tentativa de escapar de um passado misterioso e reencontrar seu filho. Ao chegar, ele descobre que está sendo vigiado e perseguido por agentes do governo e por um empresário corrupto, mergulhando em uma atmosfera de paranoia e tensão política.
Com uma estética que remete ao cinema de espionagem dos anos 1970, O Agente Secreto mistura elementos de thriller político, humor negro e surrealismo, incluindo cenas marcantes como a de uma perna decepada que ganha vida própria. O filme também aborda temas como resistência, identidade e memória histórica, utilizando o Carnaval e a cidade de Recife como cenários simbólicos.
Em entrevista à RFI Brasil, Moura disse que se conectou primeiramente com Mendonça devido à política, tendo ambos, segundo ele, vivido um momento muito difícil para os artistas, em referência, provavelmente, ao governo Bolsonaro.
“Esse filme é absolutamente brasileiro. O Kleber tem uma capacidade incrível. Ele armazena dentro dele tanta informação, ele tem uma memória gigantesca, como crítico, como estudioso de cinema. Mas, embora o filme seja brasileiro, eu conecto esse filme com o cinema americano dos anos 1970. Ele transforma as referências dele em algo absolutamente brasileiro, de uma forma única, que poucas pessoas fazem”.
“Eu queria fazer um filme que fosse uma crônica. Eu adoro crônica. Na minha época de jornalista, eu escrevia algumas crônicas, e esse é um formato no qual eu me encontro muito. O que é a crônica? É uma série de observações que você faz sobre alguma coisa, algum lugar ou algum tempo. Eu acredito que “O Agente Secreto” é uma crônica em longa-metragem de um momento da história do Brasil que pessoalmente eu ainda lembro, porque eu era uma criança, e as lembranças infantis são muito memória de base. Elas constroem quem você é como criança. Mas, ao mesmo tempo, eu acho que tem muita pesquisa histórica e coisas que ouvi dos mais velhos. Família, amigos. E tem muita coisa que descobri de maneira indireta devido ao meu trabalho no “Retratos fantasmas”, que é o meu filme anterior”, disse Mendonça, diretor do filme, ao RFI Brasil.
“O Agente Secreto”: 13 minutos de aplausos
No domingo (18), o diretor pernambucano e sua equipe, incluindo Wagner Moura, Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Udo Kier, Hermila Guedes, Thomás Aquino, Alice Carvalho e Edilson Filho, chegaram acompanhados por um grupo de frevo, trazendo a energia do carnaval de Recife para a Riviera Francesa. Acompanhados pelo grupo Guerreiros do Passo e músicos da Orquestra Popular do Recife, o elenco dançou frevo, encantando o público e a imprensa presentes. Após a exibição do filme, o público presente no Grand Théâtre Lumière aplaudiu de pé por 13 minutos, demonstrando entusiasmo e reconhecimento pela obra que mistura suspense político e memória histórica.
O elenco de “O Agente Secreto” conta ainda com Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Udo Kier e Isabél Zuaa. A produção é uma coprodução internacional entre Brasil, França, Alemanha e Países Baixos, com distribuição no Brasil pela Vitrine Filmes. Ainda não há informações de quando o filme de Mendonça e Moura deve estrear no Brasil.
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