2 de junho de 2025
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O que o Brasil deve às vítimas da escravidão? Novo livro ramplia debate sobre justiça racial no Brasil

Fruto de seminário promovido pelo Instituto Ibirapitanga, obra reúne intelectuais e ativistas para discutir o papel da memória na justiça racial e os caminhos possíveis da reparação no Brasil
30 de maio de 2025
Reparação e escravidão são temas do novo livro. Foto: mão negra segurando corrente.
Loivro foi fruto de seminário realizado em 2023 sobre o tema. Foto: Frank Tunder.

Em 2023, o Instituto Ibirapitanga promoveu o seminário “Memória, reconhecimento e reparação”, que reuniu intelectuais, artistas, ativistas e representantes de movimentos quilombolas e da sociedade civil para pensar os efeitos persistentes da escravidão e o que significa, na prática, reparar esse passado. O evento deu origem ao livro Reparação: memória e reconhecimento, que será lançado em 25 de junho de 2025 pela editora Fósforo, com organização da historiadora Luciana da Cruz Brito.

A obra compila oito rodas de conversa realizadas durante o seminário, abordando temas como ancestralidade, justiça racial, cultura, educação, indenizações e políticas públicas. Entre os autores e autoras estão nomes como Conceição Evaristo, Nego Bispo, Lia Vainer Schucman, Nikole Hannah-Jones, Justin Hansford, Vilma Reis e Juliana Borges. O livro conta ainda com apresentação da Ebomi Cici de Oxalá, posfácio de Luciana da Cruz Brito e ilustrações da artista Mayara Ferrão. QR codes espalhados pelas páginas permitem acessar vídeos dos principais debates.

No campo dos direitos humanos, o conceito de reparação refere-se a um conjunto de medidas — simbólicas, materiais, institucionais e jurídicas — destinadas a reconhecer e corrigir violações sistemáticas cometidas contra determinados grupos. No caso da população negra, descendente de pessoas escravizadas, isso significa não apenas ações de compensação financeira, mas também políticas que garantam memória, verdade histórica, justiça, educação antirracista e representatividade. A reparação é um direito reconhecido internacionalmente, e sua ausência compromete a construção de uma democracia plural e igualitária.

O livro enfatiza que não há uma única forma de reparação. As conversas traçam um amplo panorama de possibilidades: desde o reconhecimento dos saberes ancestrais e das religiões de matriz africana até ações legais e econômicas para corrigir desigualdades históricas. Trata-se de um debate vivo, em constante construção, e que ganha força em tempos de reação conservadora, apagamento da história negra e negação do racismo estrutural.

Reparação: memória e reconhecimento é mais do que um registro: é uma convocação à responsabilidade coletiva. Um convite para que a sociedade brasileira pare de negar o que deve e comece a construir o que ainda falta: um futuro baseado na dignidade, na escuta e na reparação das feridas abertas por séculos de escravidão. O livro está em pré-venda no site da editora Fósforo e será lançado oficialmente em 25 de junho.

Ana Paula Tavares

Jornalista formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Mestre em História Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Trabalhou na Globosat e na Fundação Roberto Marinho. Atualmente, é redatora-chefe do Bonecas Russas e subeditora do Portal Café História. Adora Jane Austen, The Office e mora em Brasília.

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