A historiadora Silvia Lerner acaba de lançar o livro “As vítimas esquecidas em Tempos de Intolerância: o Nazismo”, publicado pela Rio Books. A obra, de 264 páginas, se apresenta como a primeira no Brasil a investigar de forma ampla e sistemática as diversas minorias perseguidas pelo regime nazista, indo além da já amplamente estudada perseguição aos judeus. A autora reúne documentos, relatos e episódios pouco discutidos para mostrar que o projeto racial e ideológico do Terceiro Reich atingiu uma variedade de grupos considerados “indesejáveis” pelo regime.
Um panorama amplo das perseguições nazistas
O livro aborda minorias que raramente aparecem na historiografia brasileira do período, entre elas pessoas com nanismo, ciganos, deficientes físicos e mentais, gêmeos usados em experimentos, comunistas, homossexuais, intelectuais, negros, mulheres, maçons e testemunhas de Jeová. Cada capítulo dedica-se a uma dessas comunidades, apresentando o contexto da perseguição, as políticas de exclusão e episódios de violência.
Ao revisitar histórias como as dos irmãos Ovitz, família de artistas com nanismo que sobreviveu a Auschwitz mesmo após ser submetida aos experimentos de Josef Mengele, Lerner destaca a dimensão brutal e variada das práticas do regime. Casos envolvendo ciganos submetidos a testes de dessalinização em Dachau, homossexuais castrados ou submetidos a hormonioterapia compulsória e negros proibidos de frequentar escolas a partir de 1941 revelam a extensão da política de “higienização racial”.
Além da violência física, a obra revisita episódios emblemáticos de repressão intelectual, como a queima de livros de 1933, marco da perseguição a escritores e acadêmicos considerados incompatíveis com a ideologia nazista.
Intolerância ontem e hoje
Silvia Lerner chama atenção para a atualidade do tema. Filha de sobreviventes do Holocausto, ela argumenta que a memória dessas minorias ainda é fragmentada e, muitas vezes, negligenciada. A autora lembra que símbolos de lembrança, como as “pedras de tropeço”, instaladas diante das antigas residências de vítimas do nazismo, têm papel fundamental na preservação dessas histórias.
A historiadora também dedica espaço às mulheres que, embora nem sempre perseguidas diretamente, enfrentaram a escassez de alimentos, a ausência dos familiares e a precariedade da vida cotidiana em meio ao terror instaurado pelo regime. Outro capítulo destaca as testemunhas de Jeová e maçons, que sofreram perseguição política e ideológica, sendo encarcerados ou mortos por se recusarem a aderir aos princípios do regime.
O lançamento marca mais um passo no trabalho de Lerner sobre o nazismo e suas múltiplas esferas de repressão. A autora já publicou estudos sobre arte e música em campos de concentração, compondo um conjunto de pesquisas dedicadas à memória do Holocausto e às formas de resistência e expressão cultural dentro dele.