11 de setembro de 2025
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Novo livro examina as semelhanças históricas entre Rio de Janeiro e Havana

"Irmãs do Atlântico", da historiadora Ynaê Lopes dos Santos, professora de história da UFF, acaba de ser lançado pela editora Civilização Brasileira.
11 de setembro de 2025

O que a formação histórica de Havana, capital de Cuba, e Rio de Janeiro, antiga capital brasileira, têm em comum? Esta é a pergunta que move a historiadora Ynaê Lopes dos Santos em “Irmãs do Atlântico – escravidão e espaço urbano no Rio de Janeiro e em Havana (1763-1843)”, que acaba de ser publicado pela editora Civilização Brasileira – confira aqui.

No livro, Lopes, que é professora do Instituto de História da Universidade Federal Fluminse (UFF), desenvolve uma história comparada, baseada em pesquisa documental, capaz de mostrar que, para além das praias, Havana e Rio de Janeiro compartilham estruturas políticas, povos e culturas muito mais próximas do que geralmente o senso comum imagina.

Os dois países estiveram no centro do mundo escravocrata e colonialista, onde milhares de africanos foram escravizados e desterritorializados, inseridos em sociedades fortemente disciplinares e repressivas. Ainda assim, essas pessoas resistiram e produziram uma cultura singular e irmã, e tudo isso deixou marcas nas duas cidades, que podem ser vistas ainda hoje onde quer que se ande – são marcas fundadoras.

Do século XVIII ao XIX, a historiadora examina três categorias analíticas: trabalho, raça e poder. Essa tríade configurou o desenvolvimento urbano das duas cidades, entrelaçando espaços de poder onde ideias de liberdade, identidade e revolução produziriam laços fortes entre Cuba e Brasil, países negros e construídos também por negros. Essas dinâmicas e processos, organizados para e pelos escravizados, estão no centro do livro.

Segundo Lopes, “este é um livro sobre cidades escravistas”, e por isso, “lidar com a crueza do poder foi uma escolha metodológica”. Ainda segundo Lopes:

“Tal escolha determinou as tipologias das fontes analisadas: a maior parte dos documentos examinados foram produzidos pelos (ou para) órgãos responsáveis pela administração municipal do Rio de Janeiro e de Havana. Isso nos ajuda a entender como essas instituições lidaram com a realidade de cidades que dependiam, cada vez mais, do trabalho escravo. Um aspecto importante sobre a escolha em investigar documentos de Estado é torná-lo também objeto de análise. Principalmente em um livro que, tomando de empréstimo a expressão de Michael Zeuske, argumenta que nesse intervalo específico de oitenta anos, entre 1763 e 1843, duas cidades que não pertenciam ao mesmo império nem falavam a mesma língua se irmanaram graças ao compartilhamento de um chão comum: a escravidão. Sem a força do Estado para impor e organizar o escravismo, as sociedades ibero-americanas não seriam como são”.

Nascida em São Paulo, em 1982, é doutora em história social pela Universidade de São Paulo e professora na Universidade Federal Fluminense. É autora de Racismo brasileiro: uma história da formação do país (Todavia, 2022), História da África e do Brasil afrodescendente (Pallas, 2017), entre outros, além de ser colunista do periódico digital DW Brasil. É especialista em escravidão e das relações raciais nas Américas.

Bruno Leal

Bruno Leal

Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor do Departamento de História da Universidade de Brasília. É editor do portal Café História e colabora esporadicamente para o Bonecas Russas.

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