Em O Exterminador do Futuro (1984), um homem é enviado ao passado para proteger a mãe de um futuro líder da resistência humana. O detalhe? Esse homem é o pai do líder — sem saber. Ou seja, se ele não tivesse voltado no tempo, o próprio líder jamais teria nascido. Esse é um dos exemplos mais emblemáticos do chamado paradoxo do tempo, um conceito que confunde, intriga e desafia nossa compreensão linear da realidade.
O paradoxo do tempo é um tipo de quebra lógica que acontece quando eventos ligados a viagens no tempo se contradizem ou criam ciclos impossíveis de resolver. Na ficção científica, esses paradoxos se tornaram ingredientes essenciais de narrativas complexas, instigantes e, muitas vezes, perturbadoras. Filmes como De Volta para o Futuro, Looper, Donnie Darko e Interestelar exploram diferentes versões desse enigma temporal.
Afinal, o que é um paradoxo do tempo?
Um paradoxo do tempo surge quando há uma violação nas leis tradicionais de causa e efeito. Imagine voltar no tempo e impedir que seus pais se conheçam. Se você conseguir, como poderia ter nascido para voltar no tempo e impedi-los? Essa ideia é chamada de “paradoxo do avô” — uma das variações mais conhecidas. O paradoxo surge justamente porque o viajante no tempo, ao interferir no passado, anula a própria possibilidade de existir no presente.
Outra variação famosa é o “paradoxo da predestinação”, no qual tudo que acontece já estava determinado, inclusive a viagem no tempo. Nesse caso, qualquer tentativa de mudar o passado acaba sendo justamente o que o garante. Em 12 Macacos (1995), por exemplo, o personagem de Bruce Willis tenta evitar uma catástrofe global, mas acaba contribuindo para que ela aconteça — exatamente como estava previsto.
Quando o futuro afeta o passado
O paradoxo do tempo oferece aos roteiristas uma ferramenta poderosa para explorar questões filosóficas e existenciais. O que é o destino? Podemos mudar nosso futuro? Existe livre-arbítrio? Essas perguntas, embora antigas, ganham nova vida quando embarcamos em histórias de viagens temporais. O apelo emocional também é forte: quem nunca quis voltar no tempo para corrigir um erro, salvar alguém ou reviver um momento?
Além disso, o paradoxo do tempo exige atenção e inteligência do espectador. Não basta assistir passivamente — é preciso montar o quebra-cabeça, considerar múltiplas possibilidades e aceitar que algumas respostas podem nunca chegar. Em tempos de conteúdo descartável, essa complexidade pode ser justamente o que mantém o público engajado.
Ficção ou ciência?
Embora ainda seja impossível viajar no tempo como nos filmes, a física moderna não descarta completamente a ideia. A teoria da relatividade de Einstein permite pensar o tempo como uma dimensão maleável, e conceitos como buracos de minhoca sugerem, ao menos teoricamente, atalhos entre diferentes pontos no espaço-tempo. Em reportagem publicada na BBC há alguns anos, Quentin Cooper explica que existe uma brecha na física apra quem procura um respaldo científico:
“Uma pequena brecha chamada buraco de minhoca. Stephen Hawking é um dos muitos cientistas respeitados que agora acreditam que todo o nosso Universo é permeado por buracos de minhoca, efetivamente atalhos através do tempo e do espaço. Embora inteiramente compatíveis com a teoria da relatividade de Einstein e a maioria das outras grandes ideias atuais sobre a natureza da realidade, elas abrem a possibilidade não apenas de viagens no tempo – entrando por uma extremidade de um buraco de minhoca e saindo dias, anos ou séculos antes – mas também de conectar instantaneamente partes distantes do cosmos, efetivamente permitindo viagens mais rápidas que a luz”.
Segundo ainda Cooper, “não é de se admirar que a ideia de buracos de minhoca seja tão frequentemente emprestada por uma série de filmes da chamada ficção científica (incluindo Jornada nas Estrelas, Stargate, Os Vingadores e Interestelar).”
Possível ou não, cientistas e escritores seguem fascinados pelo tema. O paradoxo do tempo continua a inspirar não apenas filmes e séries, mas também estudos acadêmicos, jogos e romances. Ele nos obriga a pensar fora da lógica linear — e talvez por isso seja tão inesquecível.
O paradoxo do tempo é mais do que uma curiosidade da ficção científica — é uma provocação intelectual que nos convida a pensar sobre o funcionamento do universo, as limitações do tempo e as consequências de nossas escolhas. Ao nos confrontar com perguntas que talvez nunca tenham resposta, ele nos lembra de que o mistério também faz parte do prazer de assistir a um bom filme.
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