Dos romances clássicos às séries de streaming, dois termos povoam o imaginário popular quando falamos de sociedades futuras: utopia e distopia. Você já deve ter visto essas palavras por aí. Mas, afinal, o que significam essas palavras, de onde elas vêm e como influenciam nossa forma de pensar o mundo e, principalmente, o futuro?
A palavra utopia foi criada por Thomas More, em 1516, ao nomear seu livro Utopia, onde descrevia uma sociedade perfeita, organizada com base na razão, igualdade e bem-estar coletivo. More era filósofo, diplomata e escritor, além de um homem de leis, tendo ocupado vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532, o cargo de “Lord Chancellor” de Henrique VIII da Inglaterra. Portanto, era alguém que pensava constantemente o futuro, ou melhor, o que o futuro poderia ser um dia.
Em grego, ou-topos significa “lugar que não existe”, mas também remete a eu-topos, “lugar bom”. A ambiguidade já revela algo importante: utopias são ideias-modelo, projeções de como o mundo poderia (ou deveria) ser.
No campo político e filosófico, utopias costumam funcionar como críticas ao presente, propondo alternativas radicais aos problemas sociais, econômicos e culturais. Mais do que projetos ingênuos, muitas vezes são exercícios imaginativos sérios que inspiram reformas e movimentos sociais. Ou seja, a utopia mostra como o mundo poderia ser, mas, por algum motivo, não o é. E é por isso que as utopias costumam ser “perigosas”.
Enquanto a utopia imagina o melhor dos mundos, a distopia antecipa o pior. O termo ganhou força no século 20, especialmente após as guerras mundiais e o surgimento de regimes totalitários. Obras como 1984, de George Orwell, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, retratam futuros em que o controle estatal, a vigilância ou o consumismo extremo ameaçam a liberdade e a dignidade humanas. Assim como a utopia, a distopia, portanto, também fala do futuro, e também critica o presente, mas a crítica da distopia foca no que pode acontecer de ruim, e não no que poderia acontecer de bom.
A distopia funciona como alerta: mostra como determinadas tendências do presente — autoritarismo, desigualdade, crise ambiental — podem gerar cenários extremos se não forem contidas. É um gênero que cresceu muito na literatura, no cinema e nas séries, sobretudo com o público jovem.
Entre utopia e distopia: um campo fértil para pensar
Nem toda utopia é ingênua, nem toda distopia é um aviso definitivo. Muitos autores transitam entre os dois polos, sugerindo que a linha entre o ideal e o desastre é tênue. Em alguns casos, a utopia de uns pode ser a distopia de outros, como, aliás, mostram as sociedades aparentemente perfeitas que escondem violências invisíveis.
Na prática, esses conceitos nos ajudam a refletir: quais são os valores que queremos preservar? Quais perigos estamos dispostos a enfrentar? Como podemos imaginar alternativas reais, mesmo que imperfeitas, para os problemas do nosso tempo?