O Graphics Interchange Format, mais conhecido pela sigla GIF, é hoje uma das formas mais populares de expressão na internet. Eles estão em todos os recursos digitais. São quase sempre memes e permitem um vasto repertório de reações emocionais em redes sociais. O GIF é um formato que une imagem e movimento de forma leve e acessível. Mas quando ele surgiu? Essa é uma história curiosa que começa no final dos anos 1980.
Até onde se sabe, o primeiro GIF foi criado em 1987 – um avião ganhando altura num dia de céu azul – por uma equipe de desenvolvedores da empresa americana CompuServe, sob a liderança do programador Steve Wilhite, nascido em 1948 e falecido em 2022, vítima da Cvodi-19. Naquela época, a internet como conhecemos ainda não existia. O que havia era uma rede de computadores enormes, profissionais e conectados por linhas telefônicas e plataformas de comunicação como a CompuServe, que ofereciam serviços como e-mail, fóruns e acesso a arquivos.
Apesar da simplicidade, a escolha de um avião como primeiro GIF era simbólica: o movimento transmitia uma ideia de progresso, decolagem, comunicação e futuro — conceitos diretamente associados ao espírito da tecnologia e das redes de computadores que surgiam naquele momento.
O que fazia o GIF ser tão revolucionário? Em primeiro lugar, o GIF usava um algoritmo chamado LZW (Lempel-Ziv-Welch) para compressão de dados. Isso significava que imagens poderiam ser armazenadas em arquivos bem menores do que os formatos anteriores, sem perda significativa de detalhes. Em segundo lugar, ele podia armazenar múltiplos quadros num único arquivo, o que permitia criar pequenas animações. Assim, mesmo com conexões muito lentas, era possível transmitir uma imagem dinâmica — algo que encantava os usuários e dava mais “vida” às páginas digitais sem fazer muito esforço numa época em que a computação engatinhava. O GIF quase não consumia memória do computador.
Poucos anos depois, em 1989, a equipe de Wilhite atualizou o formato para o GIF89a, que introduziu novas funcionalidades, como a capacidade de usar transparência em imagens e definir intervalos de tempo entre os quadros da animação. Isso abriu ainda mais possibilidades para o uso criativo dos GIFs. Era o que faltava. Nos anos 1990, o GIF explodiu. Quase todo mundo usava. Ele estava nas salas de bate-papo, nas mensagens enviadas por e-mail e nas primeiras páginas dos sites. Quase sempre escalafobéticos, chamativos e engraçados.
Quem navegava pela internet naquela década lembra bem dos botões piscantes de “Under Construction”, das bandeirinhas animadas, dos ícones de e-mail piscando. Todos eram feitos em GIF. Alguns navegadores, como o Netscape Navagator também o usavam como parte de sua própria marca. Apesar de seu uso ser, muitas vezes, considerado “brega” naquela época, o formato permaneceu por sua praticidade. Eles tinham uma vibe meio MTV, com luzes piscando e algumas coisas sem sentido.
Nos anos 2000, com o avanço dos formatos de imagem e vídeo, como JPEG, PNG e MP4, o GIF chegou a ser considerado obsoleto. Seria a hora de sua morte? Não foi o que aconteceu. A partir da década de 2010, ele ressurgiu com força graças às redes sociais e à cultura de memes. E pelo mesmo motivo de sempre: são leves. Sites como Tumblr, Reddit e depois Twitter (atual X) e Facebook popularizaram o uso de GIFs como forma rápida de comunicar emoções, piadas ou pequenos momentos, sem a necessidade de áudio ou de carregar um vídeo pesado.
Hoje, o GIF goza de grande saúde e popularidade. O Giphy é hoje a maior plataforma online que permite buscar, criar e compartilhar GIFs animados. Ele é amplamente usado em redes sociais, aplicativos de mensagens e sites para expressar emoções, reações e ideias de forma divertida e visual.

“Como a maioria das mídias digitais, ela preenche uma necessidade, mas também a criou. Todos sabemos como as mensagens de texto podem ser difíceis de manejar e quanto contexto pode ser perdido, especialmente o contexto emocional. Ao torná-las visuais, você tem mais espaço para transmitir nuances”, sublinha diz Kevin Zeng Hu, pesquisador de doutorado no MIT Media Lab, a Smithsonian Magazine.
Reconhecimento tardio
Steve Wilhite, criador do GIF, ganhou reconhecimento tardio. Em 2013, ele foi homenageado com o prêmio Webby Awards pelo impacto de sua invenção na cultura digital. Na cerimônia, ao receber o prêmio, Wilhite fez revelação curiosa: todos nós pronunciamos a palavra de forma errada. Em 2013, ele disse ao The New York Times : “O Oxford English Dictionary aceita ambas as pronúncias. Elas estão erradas. É um ‘G’ suave, pronunciado ‘jif’. Fim da história.”questão de encerrar uma longa discussão: a pronúncia correta, segundo ele, é “Jif”, com som de “g” suave, como na palavra “giraffe”.
O primeiro GIF — o pequeno avião decolando — permanece como uma peça histórica. Embora possa parecer simples ou até rudimentar para os olhos modernos, ele representa o começo de uma linguagem visual que hoje é essencial para a comunicação online. Em um mundo onde as palavras às vezes falham ou são insuficientes, o GIF surgiu como uma forma universal de transmitir humor, ironia, tristeza ou alegria.
O fato de que um pequeno arquivo de 1987 ainda tenha tanto impacto é um testemunho da genialidade de Steve Wilhite e sua equipe. Mais do que uma inovação técnica, o GIF se tornou um fenômeno cultural — e tudo começou com um simples avião cruzando uma tela de poucos pixels.
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